Santos

LENDAS FANTASMAGÓRICAS DE SANTOS – O FANTANTASMA DO PAQUETÁ

À meia noite, qualquer cemitério impõe, digamos, respeito, e isso ainda se dá nos dias de hoje. Agora, o que dizer de um cemitério nos idos do início do século XX, quando Santos nem possuía luz elétrica? E se o cemitério ainda tivesse a fama de receber um fantasma em seus portões, no limiar das madrugadas?

Espantaria as pessoas, certo? Bem, não foi isso o que aconteceu em 27 de julho de 1900. Naquela noite fria e enevoada, uma multidão acorreu ao portão do Cemitério do Paquetá, na Rua Dr. Cóchrane, para ver a captura de um fantasma, como relatou um jornal da época. A polícia, cansada de registrar relatos da assombração que perambulava por ali nas madrugadas, resolveu fazer valer a autoridade até nos foros do Além. À meia noite, a força policial estava a postos, observada pela multidão.

Contudo, o tempo foi passando e nenhum fantasma apareceu. A turba, decepcionada, começou a ficar inquieta e criar algazarra. Alguns tentaram, inclusive, escalar os muros para invadir o cemitério. E a polícia, então, também para não perder a viagem, baixou o sarrafo no povo, que queria porque queria a aparição de seu fantasma.

Este foi o ápice de uma das mais famosas lendas de Santos: a do Fantasma do Paquetá.

Contava-se que, à meia noite, uma mulher, ora vestida de branco, ora de negro, surgia da direção da Rua São Francisco, parava em frente ao portão principal do cemitério e acenava lá para dentro, com um lenço nas mãos. Em seguida, levava o lenço ao rosto, por baixo do véu que o cobria, e simulava enxugar uma lágrima. Depois disso, retomava o seu caminho tortuoso, desaparecendo pelos lados da Rua Bittencourt.

Mas esse fantasma era de carne e osso. “É a história de uma beata, Maria M., de família tradicional, que sucumbiu aos encantos de um clérigo da Matriz Velha e teve um filho dele”, conta o historiador Francisco Vazquez Carballa.

A beata viveu no final do século 19. O sobrenome é mantido em segredo, pois ainda há membros da família vivendo em Santos, segundo Carballa. À época, ao saber da gravidez proibida, os pais a expulsaram de casa. Compadecida, uma das criadas de sua família a acolheu, secretamente. Maria M., então, passou a viver reclusa, cuidando de seu bebê.

Só que, mais uma vez, a fatalidade bateu à sua porta. Na Santos do final do século 19, havia peste, havia cólera, enfim, havia um vasto sortimento de outras doenças endêmicas. Assim, com o índice de mortalidade infantil nas alturas, os primeiros meses de vida de uma criança eram sempre críticos. Para o pequeno filho de Maria M., esses primeiros meses provaram-se fatais.

O bebê faleceu. Graças à influência de um primo, que acalentava uma paixão por Maria M., a criança foi sepultada no Cemitério do Paquetá. E aqui, a aura da lenda começa a se misturar à realidade. De tanta tristeza, Maria M., com o rosto coberto, passava em frente ao cemitério todas as noites, à meia-noite, para chorar a sua dor. A hora morta, das ruas solitárias, era escolhida a dedo, por uma pessoa que havia sido execrada pela sociedade e que, portanto, não desejava ser vista por ninguém.

A história correu a cidade como rastilho de pólvora e a pobre Maria já era chamada de O Fantasma do Paquetá. Por isso, naquela noite de julho, o povo acorreu ao cemitério, para vê-la em seu trajeto doloroso. Só que o desgosto começava a vencê-la: já caíra de cama, doente e, por causa disso, não apareceu no cemitério.

Em agosto de 1900, portanto menos de um mês depois da noite em que todos esperavam o fantasma na porta do cemitério, Maria M. morreu. Foi enterrada como indigente, no Cemitério do Saboó. Anos depois, novamente, o primo devotado – a quem a dor nunca permitiu a Maria que desse uma chance – entrou em cena. Conseguiu a exumação dos restos mortais dela, enterrando-os também no Paquetá.

Maria M. morreu. Mas, ao menos na imaginação popular, a sua saga noturna jamais terá um fim. E se há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia, quem sabe até não chorará de fato a sua perda, às portas do cemitério, ainda nos dias de hoje? Quem quiser conferir…

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